Canal du Midi
Sou uma apaixonada por viagens! Não só aquele tipo de paixão de colocar o pé na estrada… tenho paixão por descobrir, pesquisar, estudar e planejar a viagem. Eu não viajo só para conhecer lugares, mas para viver os lugares, os sabores, as culturas… mas não sou do tipo que sai com tudo pronto e definido. Claro que planejamento é essencial! Mas o melhor da viagem é poder se perder pelos caminhos e descobrir coisas que os guias não mostram.
E foi com essa paixão por descobertas que um dia me deparei com a navegação em canais da Europa a bordo de pénichettes. Uau!!!
Pénichettes ao longo do Canal nas proximidades de Carcassone
Pesquisando um pouco, descobri que essa é uma prática comum nos países europeus cortados por rios e canais, sobretudo na França, desde a década de 1970; que a pénichette é uma versão mini dos péniches, os grandes barcos que existem desde 1803 e transportam mercadorias pelos canais e funciona como uma casa flutuante; e que você não precisa ter nenhum conhecimento de navegação: VOCÊ MESMO pilota o barco. Sim, você é sua tripulação!
Passando pela eclusa de Trèbes
Ao todo são cerca de 150 roteiros em vários países da Europa, que duram de 7 dias a 3 semanas, com a possibilidade de começar e terminar no mesmo ponto ou em outro completamente diferente. Como não há agências especializadas no Brasil, é preciso entrar em contato direto com uma das dezenas de empresas de locação.
Em 2014 embarcamos, eu, meu marido e nossa filha, então com 11 anos, para a nossa primeira aventura fluvial (que repetiríamos em 2015, mas essa é uma outra hisrtória). Fizemos nossa reserva, e como não tínhamos a menor ideia do que nos esperava, optamos por um cruzeiro de uma semana pelo Canal du Midi, no sul da França, no menor modelo de barco que eles ofereciam, a Pénichette 935W.
Nossa “casa” no Grand Bassin em Castelnaudary
O Canal du Midi, listado pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade, começou a ser construído em 1667, por Pierre Paul Riquet, com o objetivo de transportar mercadorias do Mediterrâneo ao Atlântico sem precisar contornar a Espanha pelo Estreito de Gibraltar.
Navegando pelo Canal
Hoje sua função é exclusivamente turística. Ao navegá-lo você passa por vilarejos medievais, plantações de trigo, vinhedos, campos de girassóis, pontes, aquedutos e mais de 60 eclusas (elevadores aquáticos que permitem aos barcos subir ou descer trechos em desníveis através de um sistema de comportas).
Plantações de trigo e girassol ao longo do Canal
Aguardando a abertura da eclusa próximo a Gardouch
Chegamos na base em Argens numa tarde de segunda-feira, cheios de expectativas e ansiosos para conhecer a “nossa casa”. Havia barcos de vários tamanhos e capacidades. O nosso possuía um quarto com cama de casal, uma cama de solteiro, banheiro com pia e chuveiro quente, cozinha acoplada à sala de jantar com fogão de 2 bocas, forno, pia e geladeira e uma cabine central onde ficava o painel de controle e o timão. Tinha roupa de cama e de banho, travesseiros e edredons; na cozinha havia pratos, talheres, copos, xícaras, panelas e demais utensílios, além das compras básicas que havíamos encomendado. No convés, um compartimento para acomodar as bicicletas, que alugamos na própria base.
Barcos ancorados na base de Négra
Partindo para a aventura
Fomos recebidos por um funcionário que nos mostrou o barco e nos deu uma aula, explicando o painel de controle, como manobrar, parar e amarrar o barco, abastecer o reservatório de água, e ainda como proceder em casos de barulhos, trepidações ou panes, e principalmente, nas eclusas, que costuma ser o momento mais “tenso” da viagem porque é necessário estacionar o barco em um compartimento fechado, fora algumas regras de segurança durante a navegação.
Passando pela eclusa quádrupla de St-Roc próximo a Castelnaudary
Dirigir a pénichette é muito fácil. Depois do motor ligado, ela navega praticamente sozinha: você só precisa virar o leme na direção desejada. Mas não se engane: como não há correnteza e a velocidade é baixíssima (entre 6 a 8km/h) ela demora um pouco para responder aos comandos, o que, no começo, nos causou alguns problemas.
Passando sob uma ponte saindo de Carcassone
Antes de partir, recebemos um guia fluvial do Canal, com a planta baixa do percurso, com a localização de vilarejos, eclusas, pontes e marinas e a distância entre eles, o que é fundamental para calcular quantos quilômetros você precisa percorrer por dia, além do tempo gasto para se ultrapassar as eclusas (de 20 a 30 minutos, em média), a fim de chegar ao destino final na data marcada – no nosso caso, precisávamos navegar no mínimo 20km/dia (cerca de 4h30) para completar o trajeto em uma semana.
Todas as eclusas tem uma placa mostrando a distância entre elas
Como é proibido navegar à noite na maioria dos canais, é importante planejar o dia para que consiga atracar em algum porto, ou em qualquer lugar do canal próximo a algum vilarejo, antes que as eclusas fechem.
Vinhedo na beira do Canal onde passamos nossa primeira noite
Nosso roteiro começava em Argens-Minervois e terminava em Négra, na região vinícola de Languedoc-Rousillon, passando por vilarejos como Marseillette, a cidade medieval de Carcassone, Trébes, Bram e Castelnaudary, num trajeto de 118 quilômetros dos 240 totais do Canal.
Homps
Puichéric
Cidade Medieval de Carcassone
Porto de Carcassone
Castelnaudary, a terra do Cassoulet
E dos moinhos - Le Moulin de Cugarel
Pôr do sol no Grand Bassin em Castelnaudary
Bonnétis
A rotina de um dia de viagem é, digamos, slow…mas não sem emoção! Passar pela primeira eclusa dá aquele frio na barriga, igual a aprender a andar de bicicleta! Não é difícil, mas necessita de trabalho em equipe. Aliás, esta é uma viagem em que todos tem uma função dentro do barco: planejar, calcular, pilotar, limpar e organizar são coisas importantes no dia-a-dia. No mais, depois de algumas horas de navegação, muitas fotos e várias eclusas pelo caminho, chegava-se a um vilarejo. Hora de atracar o barco e conhecer o lugar! E a melhor maneira de fazer isso era de bicicleta!
Naurouze
Voltávamos para o barco sempre carregados de produtos locais: pães, queijos, doces, frutas, verduras e vinhos, para preparar nosso almoço ou jantar.
Uma típica refeição francesa!
Conhecíamos cidadezinhas o tempo todo. O dia passava sem nos darmos conta. No final do dia, bastava achar um lugar agradável e calmo para encostar o barco e pernoitar. E começar tudo de novo no dia seguinte.
Lua cheia no Canal
* Sou uma ex-publicitária que decidiu ser mãe e trabalhar com algo em que pudesse acompanhar o crescimento da minha filha. Depois de muito tempo e algumas viagens, descobri que ajudar as pessoas a viajarem é parte da minha vida. Acredito que viajar é o melhor investimento que uma pessoa pode fazer. Seja para falar outra língua, para provar novos pratos, novos aromas ou simplesmente para não fazer nada. Se quiser conhecer um pouco mais do meu trabalho visite:
https://www.facebook.com/roteiristadeviagens
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COMENTÁRIOS:
Fernando Ceron comentou 8 anos atrás
Otima dica e parabens por dividir com o grupo. Interação com a cultura e natureza, além de aproveitar algo não muito divulgado e riquissimo.
Kelly Cruz comentou 8 anos atrás
Obrigada, Fernando Ceron!
RUTECN comentou 8 anos atrás
Nossa, adorei esse passeio tão diferente que fizeram! Vou pesquisar a respeito e visitar seus sites.
Kelly Cruz comentou 8 anos atrás
Rute, vale muito a pena! Se precisar de algo, avise!
Miriam Munir comentou 8 anos atrás
Uauuu Kelly! Com certeza vou ver seu trabalho sim! Você me inspirou muito!!!!
Kelly Cruz comentou 8 anos atrás
Valeu, Miriam!
Juliana Alexandre comentou 8 anos atrás
Que excelente relato, sem dúvida parece calmo, mas já imaginei mil situações emocionantes rs... aprendi um pouco mais sobre esse universo fantástico das viagens...grata!!!