Não pude ir no melhor passeio da viagem. Um ataque de borrachudos em uma fazenda de Venda Nova do Imigrante fez meu pé inchar e ficar do tamanho da Pedra Azul. Eu mal conseguia ficar em pé, quanto mais fazer a trilha de cerca de uma hora. Não foi fácil tomar a decisão de ficar no hotel, mas ainda mais difícil foi começar a receber as imagens no grupo do WhatsApp.

Não sei se a galera estava editando a foto antes de mandar, sei que fiquei completamente apaixonado pelo Parque Estadual Paulo Cesar Vinha, em Guarapari, a cerca de 40 minutos de Vitória, no Espírito Santo. O primeiro golpe baixo veio com essa foto da área de restinga e mangue, com as serras ao fundo a perder de vista.

Foto: Fernando Palacios

Talvez por dó, comecei a receber notificações na minha tela do celular. Conforme iam avançando na trilha e o guia parava para uma explicação, os detalhes eram repassados a mim. Funcionou como um tempo real de uma partida de futebol que os portais de internet fazem para quem não pode ver o jogo pela televisão. Era um bom consolo.

A entrada do parque está visível para quem vem pela Rodovia do Sol. Depois de deixar o carro no estacionamento, o viajante verá a placa “Trilha da Restinga”, que vai rumo a Lagoa de Caraís, da qual falarei mais adiante. Lembre-se de que não há lanchonetes, portanto é fundamental levar água e alimento. Um vestiário permite tomar banho na hora do retorno.

Antes chamado de Parque de Setiba, por estar na praia de Setiba, mudou de nome para homenagear um biológo que foi assassinado em 1993, famoso por combater a extração ilegal de areia do local. A captura de aves também é um problema constante enfrentado pelo parque, assim como os incêndios florestais - o último de grande porte, em 2014, afetou um terço da área total.

Foto: Fernando Palacios

São 1.500 hectares que protegem uma das últimas áreas de restinga da Mata Atlântica brasileira. A vegetação de restinga tem papel de enorme importância: é responsável por fazer a transição entre o ecossistema marinho e o terrestre, como se fosse uma barreira natural de ecossistemas costeiros, como os mangues.  

E tudo isso em meio a uma fauna e flora de diversidade sem precedentes. A trilha alterna momentos de vegetação aberta e fechada, e a paisagem varia muito, com lagoas, dunas, planícies alagadas, mata seca, floresta inundada, brejo.

Dentre os animais que podem passar pelo nosso caminho, estão o veado-catingueiro, cachorro-do-mato, sagui-de-cara-branca, jaguatirica, ouriço-preto, papuaçu, capivara, aves como sabiá-da-praia, garça-branca-grande, apuim-de-cauda-amarela, além de muitos peixes, insetos e anfíbios.

Enfim na Lagoa dos Caraís, ela pode ser considerada o ápice do passeio. Sua água avermelhada, em tom de Coca-Cola, por causa das raízes das plantas da região, é ideal para banhos refrescantes. Quem quiser pode migrar da água doce para a água salgada do mar logo ao lado, é só pular o banco de areia. As várias camadas de cores tornam o cenário cinematográfico, como em mais uma foto que chegou por mim via WhatsApp.

Foto: Rafael Incao

Estou falando como se tivesse ido ao parque, mas sem ter tido as experiências sensoriais que meus amigos tiveram. Podem ter certeza: já estou pensando em quando voltarei ao Espírito Santo para conhecê-lo. Partiu?

- - - -

Se você curtiu esse texto, ficaria extremamente feliz se pudesse dar um nele aí embaixo ou compartilhar com seus amigos!