Japão


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Viajar para o Japão foi uma experiência que me marcou muito e exigiu de mim certo senso de aventura. O país do sol nascente é diferente de tudo o que eu já tinha visto até então em termos de cultura, história, gastronomia, organização e maneira de viver.

Para estar lá, eu precisei me desconstruir completamente, porque os códigos japoneses de linguagem e de comportamento são muito distintos dos nossos e não me diziam absolutamente nada.

Visitar o Japão foi uma experiência muito mais sensorial do que racional, porque na maior parte do tempo eu pude apenas sentir, pois muitas vezes não conseguia entender nada do que estava acontecendo em meu entorno, do que estava vendo. Podia apenas especular ou viver os momentos, um pouco como se fosse criança novamente e isso teve um impacto muito significativo em meu espírito.

Eu trouxe do Japão uma bagagem abarrotada, lotada de memórias e lembranças, além de inesquecíveis vivências que eu carrego comigo até hoje e as incorporei à minh´alma, porque influenciou fortemente o que sou como ser humano, em meu papel na sociedade em que vivo, mas principalmente em minha vida de viajante.

Visitar este país foi como estar em outro mundo, outro planeta, pois muito pouca coisa me pareceu familiar. Aos poucos, entretanto, fui aprendendo alguns de seus símbolos e sinais, fui sobrevivendo e gostando. Assimilando alguns saberes, ainda que de maneira superficial, dessa complexa sociedade.

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Eu acreditava que conhecia, e adorava, a culinária japonesa. Ledo engano. A comida servida lá é completamente diferente em termos de aroma, textura e principalmente sabor. Mesmo em redes estrangeiras como a Starbucks, onde comemos uma ou duas vezes, tudo é estranho.

Eu até que me considero valente em termos de experimentação culinária, mas a gastronomia encontrada no Japão extrapolou e muito os meus limites.

Percebi, contudo, observando e testando que existia uma parte dessa cozinha que me era agradável, como as massas, algumas sopas e as carnes, além dos sashimis. Aí ficou fácil me divertir com estes novos sabores.

O meu problema maior foi com o arroz e o frango; o primeiro era feito com cores estranhas, com perfumes e consistências extremamente desagradáveis. O segundo geralmente vinha com pele e pouco cozido. Juntos, essa dupla formava a iguaria mais comum que encontrei em terras nipônicas.

Como estratégia, decorei como se falava arroz em japonês e sempre perguntava nos restaurantes se havia arroz no prato escolhido. Era engraçado porque muitas vezes eles demonstravam estranheza diante de minha rejeição à base se sua culinária. Até desenvolver minhas técnicas de sobrevivência, deixei muita comida no prato, sem condição nenhuma de comê-la.

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Não encontrei garfo ou faca em nenhum restaurante onde comemos, somentehashi e colheres engraçadas, com um buraco no meio, para ajudar com as comidas de caldo, que são muitas. 

Quase sempre, ao entrarmos nos restaurantes, as mesas ao lado paravam momentaneamente suas refeições para nos observar ostensiva e curiosamente. Fiquei imaginando, especulando, que eles esperavam para ver se saberíamos utilizar os hashis.

Uma amiga brasileira, quando viajou ao Japão, levou na mala seus talheres, pois nunca conseguiu entender-se com os pauzinhos japoneses. 

Os mercados salvaram minha vida inúmeras vezes porque as comidas prontas vem embaladas em plásticos transparentes que me permitiam ver a aparência da comida. Nem sempre eu sabia o que estava comendo (ainda bem!), mas pelo menos o aspecto me agradava e o sabor constantemente o seguia.

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A linguagem cheia de caracteres não é inteligível para nós, mas depois de uns dias eu comecei a assimilar alguns desses desenhos para identificar minimamente algumas coisas como banheiro feminino, saída, entrada, nomes de cidades...

Aprendi palavras como obrigada, por favor, bom dia, boa tarde, boa noite. O básico porque sei que os códigos japoneses são complexos. O próprio cumprimento de cabeça, que tanto me encantou, tem diferenças em termos de angulação, dependendo de quem estamos cumprimentando.

Sabendo disso, agradeço a esse povo gentil que foi condescendente com meu equivocado, mas esforçado cumprimento. 

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Presumi que os próprios japoneses devam ter dificuldades com suas regras, símbolos e etiquetas porque de muitas maneiras eles buscam facilitar. Nos restaurantes, por exemplo, o que nos salvou foram as imagens.

Nos cardápios existiam fotografias da maioria dos pratos. Na entrada de muitos restaurantes havia maquetes das comidas. Passávamos muito tempo olhando, decifrando até decidirmos o que gostaríamos de experimentar.

Descobri que nossos gestos, como sinal de ok, a conta, por favor, ou tantos outros não significam nada para eles. Por dedução, fomos aprendendo formas de nos comunicarmos, pois a maioria das pessoas não falava inglês e quando falavam, a pronúncia nos confundia. 

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Em uma loja demoramos mais de dez minutos para entender que o “coro” que o vendedor repetia insistentemente queria dizer “color”.

Levamos um tempo para compreender que no Japão as pessoas não sentam calma e longamente para almoçar. Eles chegam, sentam, pedem sem demoras, comem, pagam (geralmente a conta é paga no caixa) e se vão.

Mais uma vez só pude supor a razão: a quantidade de pessoas que vivem nas principais cidades cujo espaço físico é pequeno. Assim, eles não podem ocupar por muito tempo um determinado recinto.

O pedido, por conta disso, tem que ser feito todo de uma vez. Durante um de nossos almoços, tomamos uma bronca gigantesca porque pedimos de bocadinho em bocadinho, como fazemos no Brasil, e quase fomos expulsos do estabelecimento. Morri de tanta vergonha.

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Nunca fui tão olhada, observada, devassada em toda a minha vida como no Japão. As mulheres especialmente, me olhavam sem nenhum tipo de discrição. Confesso que não me agradou a sensação.

Aqui no Brasil eu faço o tipo mignon: magra e baixa, mas no país dos olhinhos puxados eu sou alta e gorda. A moda japonesa simplesmente não coube em mim. Uma pena porque eles fazem roupas muito femininas e bonitas.

Alias, a mulheres japonesas, assim como os homens, são delicadas: parecem bonecas de porcelana. Andam engraçado, sorriem, tem olhos curiosos. Eles não têm muito jogo de cintura e podem se apavorar diante de um ocidental, mas são gentis e nunca nenhum deles me deu as costas sem usar de todos os recursos possíveis para me ajudar. Quase sempre era eu quem desistia. 

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Os banheiros para mim foram verdadeiros parques de diversão: eles vão do absolutamente rústico ao mais sofisticado de todos os objetos com milhões de botões, todos descritos em japonês, o que tornava tudo ainda mais engraçado.

Uma vez eu comecei a apertar todos eles para ver o que acontecia, para que serviam e esqueci–me do tempo, deixando Léo preocupado do lado de fora.

É muito comum, mesmo em lojas, sermos obrigados a tirar os sapatos para entrar, então fico feliz de ter levado sapatos fáceis de manusear, além de meias lindas e em bom estado (na maior parte do tempo), pois em vários momentos elas ficaram expostas. 

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Ver o mapa de alguma cidade do Japão faz a gente chorar de medo e quase desistir de ir. Difícil de entender! Foi preciso ter muita paciência para conseguir chegar a algum lugar, pois nem sempre as pessoas nas ruas conseguiam nos ajudar. Quase nunca para falar a verdade, por conta do idioma.

Andando pelo Japão, aprendemos a relaxar, a mudar de rumo, de programação. A aceitar o que viesse e a comemorar cada pequena conquista.

A trajetória histórica deles, suas guerras, vitórias e derrotas, seus governos, seu passado, seus heróis e seus artistas não eram meus conhecidos, como acontece tão facilmente em outros países do lado de cá. Tudo era novidade.

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Por tudo isso, eu costumo afirmar que minha vida de viajante divide-se entre antes e depois do Japão: foi um aprendizado importante que me ensinou mais profundamente a respeitar as diferenças, mesmo quando não as entender, a não criticar, pois não há forma melhor ou pior de viver, e sim a que cada povo consegue desenvolver naquele momento. 

Aprendi a observar, a caminhar sem pressa, a gostar do caminho e não só dos pontos turísticos. Minha alma se flexibilizou e tornei-me mais forte. No Japão fomos obrigados a experimentar, a testar... A arquitetura, os templos, as ruas... tudo era peculiar, estranho, novo e muitas vezes só podíamos olhar, sem absorver o significado completo, real, daquilo que estava diante de nós. 

De alguma forma, quando relaxei, as coisas fluíram e eu me vi sabendo o que comer, conversando com senhorinhas simpáticas, me sentindo em certa medida, confortável naquele país.   

Já se passaram cinco anos desde que estive no Japão e a partir de hoje, vou tentar resgatar essas memórias, contar essas histórias, reviver esse país lá no Espiando Pelo Mundo.

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COMENTÁRIOS:

RUTECN

RUTECN  comentou 7 anos atrás

Muito interessante esse relato, do Japão aos olhos de uma ocidental. Mesmo tendo crescido num ambiente misto nipo-brasileiro, quando o visitei pela primeira vez senti um choque cultural muito grande, mas na segunda vez isso foi bem maior porque fui sozinha, tentei passar despercebida, mas com essa cara oriental e comportamento estrangeiro acharam que eu era chinesa ou coreana, rss. Por isso, parabéns por ter contado sua esperiência. Beijos

sérgio giorni

sérgio giorni comentou 7 anos atrás

Muito legal sua experiência e a forma como descreveu. Isso me fez colocar o Japão na minha lista. Obrigado.

Rose Sena

Rose Sena comentou 7 anos atrás

Lendo seu relato, em alguns trechos, fui solidária as suas sensações... nem imagino a sensação estranha de estar em um restaurante e todos pararem para observar seu comportamento frente a refeição rsrss. Já li muito sobre viagens ao Japão, mas sua experiência me pareceu mais realista e até sensorial. Show!! Gratidão

eder Oliveira

eder Oliveira comentou 7 anos atrás

Muito bacana seu post. Você escreve super bem,parabéns.

Bernardo Cunha

Bernardo Cunha comentou 7 anos atrás

Wow!! Lindo demais seu relato!! Parabéns!

Analuiza Carvalho (Espiando Pelo Mundo)

Analuiza Carvalho (Espiando Pelo Mundo) comentou 7 anos atrás

Obrigada Rute... Que bom que leu e que gostou! :) Obrigada também por contar sua experiência: se você, que cresceu em um ambiente com influências nipônicas sentiu a diferença, imagine eu?! rsrsrs beijus P.S. Muita coragem voltar sozinha para um país de difícil entendimento. :)

Analuiza Carvalho (Espiando Pelo Mundo)

Analuiza Carvalho (Espiando Pelo Mundo) comentou 7 anos atrás

Obrigada! Coloca sim, Sérgio, que é um país que vale muito à pena visitar! :) bj

Analuiza Carvalho (Espiando Pelo Mundo)

Analuiza Carvalho (Espiando Pelo Mundo) comentou 7 anos atrás

MUITO obrigada Eder e Bernardo!! Esses gentis elogios me deixaram muito feliz! Bjus

Analuiza Carvalho (Espiando Pelo Mundo)

Analuiza Carvalho (Espiando Pelo Mundo) comentou 7 anos atrás

Obrigada Roseneide! Adorei sua percepção! Sim, foi uma viagem muito sensorial, muito mais que racional e aprendi muito com isso! bjus

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