"Ih, foi mordida pelo bichinho da viagem, menina?" É assim que meu tio (super viajante) se refere a essa vontade louca e incontrolável de sair por aí conhecendo o mundo. Tipo um comichão que vai tomando conta de você, só que melhor.

Eu sempre gostei de viajar, mas fui mordida mesmo pelo bichinho em 2008 quando surgiu a oportunidade de fazer um curso de espanhol em Buenos Aires. Decidi ir porque pareceu divertido, porque duas amigas se empolgaram pra ir também, mas não tinha ideia que essa experiência seria tão apaixonante que viajar se tornaria o meu novo foco.

Parece que quando o bichinho da viagem te morde, tudo muda. As coisas que você gostava de fazer antes não têm tanta graça assim. Você começa a ler sobre viagens, falar sobre isso, se identificar com quem viaja também e não entende as pessoas que mal saem da própria cidade. Afinal, você já conhece os prédios, as ruas e os parques da sua cidade... E você quer aquele sentimento fantástico de aventura, de quando dar uma volta na quadra ou ir ao mercado são novidades.

É oficial, você foi mordido.

E agora, como lidar com a volta? Voltar pra rotina de trabalho de segunda a sexta, juntar todo o dinheiro de novo, esperar um ano pelas férias... Às vezes sou invadida por uma sensação de que enquanto eu trabalho o mundo inteiro está tomando vinho em Paris, subindo o Machu Pichu ou nadando com os golfinhos no Caribe (menos eu). E olha que eu adoro o meu trabalho, não me entendam mal, mas é inevitável me distrair pensando na longa lista de lugares que eu gostaria de estar...

Pois é. Efeitos colaterais que você tem que enfrentar. E eu aprendi ao longo do tempo que enquanto a tão esperada viagem não surge, existem algumas coisas que posso fazer pra aliviar o comichão:

1- Colocar energia, foco e pensamentos positivos nas viagens. Pode parecer coisa de livro de auto-ajuda, mas eu boto fé que nossos desejos têm força, é só não se desesperar e confiar que as oportunidades vão surgir. Pendurei um mapa-múndi na minha parede e olho pra ele todos os dias pensando: pra onde agora?

2- Guardar dinheiro. Não tenho carro, não faço unha no salão, não tenho cartão de loja e faço listas com as coisas que eu REALMENTE preciso comprar. Coloco todo o dinheiro que sobra numa poupança que eu finjo que não existe, até aparecer a oportunidade da nova viagem (afinal, você tem que estar pronto pra quando ela surgir!)

3- Fazer o que a situação requer. Minha professora de yoga sempre diz "faça o que a situação requer" e isso faz muito sentido. Quando eu quis fazer intercâmbio, por exemplo, eu encontrei uma boa proposta para ir para os EUA. Detalhe: eu de-tes-ta-va os EUA naquela época, queria desesperadamente ir pra Europa, mas meu orçamento não dava e os EUA eram a melhor opção. Fiz o que cabia na situação e fui. Resultado: ia ficar um ano e fiquei dois. Hoje eu AMO a aquele país e acho que foi uma das melhores decisões que já tomei na vida! God Bless America!

4- Abraçar oportunidades. Casamento de alguém em outra cidade? Vá! Passagem super barata para um destino que você nunca planejou? Compre! Vôo com escala? Pegue a escala mais longa, assim dá pra descer e passear! Fronteira que dá pra cruzar pro país vizinho? Mais uma país pra lista! E por aí vai... 

5- Agradecer pelas viagens feitas. Mas não daquele jeito clichê em legenda de selfie com #gratidao, sabe? Refletir mesmo sobre o privilégio que é poder conhecer novos lugares e culturas. Se for pensar, quantas pessoas nunca tiveram essa oportunidade? Ou pior, pessoas que tem plenas condições de viajar e não o fazem porque não querem sair de suas zonas de conforto? 

Quem viaja ganha um novo olhar sobre a vida, e se você despertou pra esse olhar, agradeça!

E acho que é isso que eu quero compartilhar com o mundo: que pode exigir um pouquinho de paciência até você conseguir articular uma viagem, pode não ser tão acessível, mas é possível sim! E é extremamente recompensador! E se você puder viajar, VÁ!!!

Só mantenha em mente que se o bichinho te morder, não tem cura! ;)

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