Cachoeiras de São Luiz do Paraitinga


 São Luiz do Paraitinga      6905 visualizações

- Silêncio!

 

Imóveis, vimos nosso guia se agachar e revolver um amontoado de terra do chão.

 

 - Estão vendo?

 

Bruno Molinero adicionou foto de  Foto 1
Cachoeira do Parque Estadual Serra do Mar (Foto: Bruno Molinero)

 

Não víamos absolutamente nada. A não ser um rapaz de vinte e poucos anos ajoelhado na nossa frente, mostrando os dedos médio, indicador e polegar, sorrindo como se fosse uma criança que acaba de ganhar um videogame novo no Natal.

 

- É uma pegada de três dedos, provavelmente de uma anta. E, pelo jeito, das grandes, com mais de 200 kg. Deve estar aqui por perto ainda. Não é incrível?

 

Estávamos no início de uma das trilhas do Parque Estadual Serra do Mar, perto da cidade de São Luiz do Paraitinga, a apenas 180 km de São Paulo e a poucos metros de uma anta. Ainda não sei se ele queria dar um tom dramático ao começo da visita ou se realmente um bicho gigante tinha decidido fazer o mesmo caminho que nós. O fato é que deu certo. Se São Luiz é conhecida pela festa do saci, folia de reis, congadas, festa do divino, marchinhas de carnaval e todo o tipo de folclore, começamos a ter certeza depois daquilo de que era no meio daquela mata que moravam os sacis e as fadas.

 

Claro que o jeitão do nosso novo companheiro também ajudava. Parecido com um escoteiro saído de Jumanji, ele usava boné com mosqueteira, colete bege, calça apesar do calor e da umidade, bota militar e walk-talkie preso ao corpo. Assim que chegamos ao parque, após vencer a meia hora de estrada de terra que separa São Luiz do lugar, ele estufou o peito para a palestra introdutória.

 

- Temos 315 mil hectares de mata atlântica no parque e nove núcleos. Vocês estão em um deles, o Santa Virgínia. Por ser uma área de proteção ambiental, qualquer uma das seis trilhas só pode ser percorrida com um guia --no caso, eu. Vamos fazer a Pirapitinga, que é a segunda menor e a mais fácil. São duas cachoeiras pelo caminho e 5,6 km [em vez de quilômetros, ele pronunciava "ká-ême"] no total.

 

Em dez minutos, ele nos contou que o local abriga um quinto de todas as espécies de aves que existem no Brasil, além de mais de 110 tipos de mamíferos, como a anta, mas também bichos-preguiça, bugios e onças-pintadas. Seus olhos faiscavam ao falar sobre cedros altíssimos, perobas e maçarandubas, orquídeas, bromélias e samambaias, sobre a queda das cachoeiras e as piscinas naturais formadas pelos rios Ipiranga e Paraibuna.

 

Depois do incidente da pegada, e já devidamente autorizados a nos mexer, finalmente saímos do caminho cercado por árvores e chegamos às quedas d'água. A primeira era um amontoado de pedras que formava um lago. O lugar deserto só era incomodado pelo barulho da cachoeira e dos pássaros. Mas toda a calmaria foi por água abaixo quando entramos na piscina natural. Era agosto e a água era tão fria, mas tão fria, que desconfiei de que a marca que vimos no começo da trilha não era a de uma anta, mas a de um urso polar.

 

Já a segunda cachoeira não era bem uma cachoeira, mas uma corredeira com uma plataforma rochosa, de onde era possível mergulhar. Pulamos, apesar do perigo real de morrer de tanto bater os dentes de frio. Foi nessa hora que percebemos que nosso guia já não estava ali por perto. Enquanto tomava um pouco de sol, esperando meu corpo voltar aos nunca antes tão valorizados 36 graus e meio, imaginei que ele poderia aparecer a qualquer momento com um almoço feito com frutas da região, com o colete transformado num bote inflável, atracando-se com um porco selvagem...

 

Bruno Molinero adicionou foto de  Foto 2
A segunda queda d'água (Foto: Bruno Molinero)

- Eu estava sentado naquela pedra ali. Vamos voltar? Temos ainda dois "ká-ême" até a sede. E acabaram de me avisar pelo rádio que um casal atrasado chegou para fazer a trilha. Preciso acompanhá-los.

 

Voltamos. Desta vez, sem nenhum incidente digno de nota, a não ser um encontro rápido com um pé de palmito-juçara, "muito cobiçado por palmiteiros, mas ameaçado de extinção --e, por isso, protegido pelo parque, com a ajuda da Polícia Ambiental e do Ministério Público".

 

Dias depois, descobri que, das seis trilhas disponíveis, a que fizemos era mesmo a mais "papai mamãe". Em outra, de 17 km de caminhada, consegue-se avistar Ubatuba, o litoral e uma bela porção da Serra do Mar. Já em uma terceira, parte do trajeto é feito de rafting. Para trilhar qualquer um dos caminhos, é preciso fazer agendamento prévio. A visita é gratuita. E mais informações podem ser vistas no site: http://www.ambiente.sp.gov.br/parque-serra-do-mar-nucleo-santa-virginia/.

 

Pegadas de anta não estão inclusas no pacote.

 

Por: Bruno Molinero

 

 

Parque Estadual da Serra do Mar, São Luiz do Paraitinga (SP), Brasil:

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COMENTÁRIOS:

Laís Albuquerque

Laís Albuquerque comentou 8 anos atrás

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