Já faz um tempo, uma pulguinha vem fazendo aquele canto do meu corpo que fica atrás da orelha se pinicar todo. Em meio às atribulações da vida diária, dividida entre os afetos familiares e a luta, muitas vezes dolorosa, em busca de um lugar ao sol no mercado de trabalho, deixei de ganhar o mundo.

Milhares de sabores, cheiros, vistas, pessoas e experiências sendo deixadas para trás. Milhões de possibilidades deixadas por descobrir... Só aguardando a sua vez. Essa bendita pulga me azucrinando e cochichando na minha orelha que cada saída na estrada pode esconder um mundo até então desconhecido para mim, que cada estrada de terra pode ser uma passagem secreta para uma nova vida... Por que dizer não? Por que não abraçar o novo e cair no mundo?

O que dizer sobre a falta que anda me fazendo aquele frio na barriga quando o avião decola rumo ao inédito, ou sobre a sensação indescritível quando o trem de pouso toca o solo? Um cruzeiro... Nem sei colocar em palavras a sensação que causa o navio que se joga ao mar, sem medo e sem pudor. O que dizer sobre as “minhocas de metal” espalhadas por esse mundo? A alegria que o coração sente quando a Maria Fumaça dá seu grito e sai em disparada rumo aos cantinhos desse Brasilzão... Ah, que alegria. Meu corpo anda saudoso dessas sensações e meu coração anda sentindo falta dessa alegria sem vergonha de quem aproveitou o momento como ninguém.

Foi necessário que uma pulga atrás da orelha ficasse meses buzinando na minha cabeça para que eu finalmente tomasse coragem e tentasse, mais uma vez, correr o mundo. Nada muito distante a princípio, afinal os grandes espetáculos exigem muito ensaio. Então, por que não ensaiar uma grande viagem começando pelos pequenos passeios, pelas fugidinhas de fim de semana e outras escapadelas cada vez mais duradouras e cada vez mais distantes?

Não faz sentido adiar mais, deixar o tempo passar. Quando o corpo sofre e o coração impacienta-se é chegada a hora de sair. Queria poder passar mais tempo compartilhando o quanto anda me fazendo falta viajar, mas não posso. O motor do ônibus roncou e é hora de ir... Desculpem-me os que ficam, mas o novo me aguarda e estou ansiosa para conhecê-lo.

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