Minha primeira viagem sozinha, presente de aniversário que me dei aos 60 anos, começou bem antes, em Londres, onde morava minha filha na época. Consegui convencer minha melhor amiga, que não gosta tanto de sair de casa, a atravessar o Atlântico e ir lá celebrar conosco.

Primeiro, uma peça de teatro no Covent Garden, depois um jantar no restaurante do James Oliver. Para prolongar o sabor do Reino Unido, conhecemos também Stratford-Upon- Avon, Canterbury, Cambridge, Liverpool, Oxford, Edimburgo e o misterioso lago Ness, entre outros locais.   Cambridge e Oxford

As cidades parecem gêmeas, cópia uma da outra. Ambas tornaram-se famosas pelos seus centros universitários. Ruas, parques e cafés têm aquele burburinho típico de estudantes. Caminhar é um bom jeito de chegar às atrações turísticas em cenários medievais e prédios centenários como o King’s College (Cambridge). Jovens remam em pequenos barcos pelo rio Cam, cercado de paisagens com os gramados bem cuidados das faculdades, cujos prédios lembram antigos castelos.

Oxford, primeira a se transformar num imenso campus, tem muitas celebridades entre seus mestres e ex-alunos. Dizem que na área central do Trinity College ainda existe a macieira que inspirou Newton na descoberta da Lei da Gravidade. Lewis Carroll lecionou no local, por isso é possível que alguns dos recantos tenham servido para os livros de Alice no País das Maravilhas. No hall central, foram gravadas cenas para os filmes de Harry Potter.   Stratford-upon- Avon e Liverpool

As principais atrações de Stratford-upon- Avon, onde nasceu Shakespeare, são associadas aos locais em que viveram os pais e familiares do poeta e dramaturgo inglês. Um passeio de barco pelo rio Avon e a vista de suas margens e das pontes sobre o canal dão um ar romântico à cidade.

Visitamos a Butterfly Farm, paraíso de borboletas e mariposas em ambiente que reproduz o clima tropical, com variedade de plantas, passagem da luz solar e imitação da chuva de verão. Já em Liverpool, as principais atrações estão relacionadas aos seus representantes mais famosos: os Beatles.

Quase dá pra respirar rock, tantas são as referências -- Cavern Club (onde os rapazes faziam suas primeiras apresentações), Strawberry Field, Eleanor Rigby, pode-se ver tudo nos roteiros dos tours. Fizemos um de táxi, com fundo musical temático. A guia-motorista nos levou aos pontos marcantes, onde fazíamos breves paradas para ouvir histórias dos personagens e tirar fotos.   Edimburgo e lago Ness

Saímos de Liverpool de trem em direção à Escócia. Pela estrada, verdes campos e ovelhas com seus filhotes, enquanto ao longe as montanhas ainda estavam com neve. A capital Edimburgo é uma cidade linda, mas bastante fria para o meu gosto brasileiro.

Pegamos chuva -- aliás, eles comentam que só existem 40 dias de sol a cada ano -- e quase nem deu para fazer fotos das construções medievais e dos lindos castelos por causa da neblina.E isso que era primavera! Andamos bastante a pé pela cidade.

Fizemos tours com visita ao castelo da rainha Mary Stuart e ao castelo do rei, no alto de uma rocha onde se pode ver a cidade. Descobrimos um pub (Ryan’s), com um ambiente agradável, boa comida, boa cerveja e preço razoável. Retornamos outras vezes para almoçar e sempre achamos que valeu a pena. Agendamos um passeio a Loch Ness, um dos meus sonhos de infância: eu lia histórias do lendário monstro do lago na revista Seleções e mantinha o desejo secreto de poder ver o Nessie.

Na estrada até Inverness, de onde partem os barcos, lindas paisagens e uma parada para foto com um gaiteiro de foles. Ainda um tanto decepcionada por não ver o monstro do lago, enfrentei o maior frio durante o passeio de barco, com um vento gelado, daqueles de doer tudo.

Mas, posso dizer que adorei o que conheci da Escócia.

  Windsor, Cantuária e Dover  

Windsor é um daqueles passeios bate-volta. A cidade, às margens do rio Tâmisa, já foi sede da realeza e tem um castelo que ainda é um dos preferidos da rainha Elizabeth para visitas em fins de semana. Para alegria dos turistas, Windsor dá a chance de apreciar uma cerimônia de troca da guarda bem de perto.

Chega-se a Windsor facilmente de trem, partindo da estação Waterloo (próximo ao London Eye). Suas atrações são ligadas à monarquia e ao estilo de vida tradicional dos britânicos. Os pontos turísticos incluem o Eton College, criado em 1440 e onde os alunos ainda usam fraque e colete como uniforme, e o Hipódromo de Ascot, onde se realizam as famosas corridas.

Uma coisa é certa: as pequena cidades de cada país se parecem entre si. Isto é, ao conhecer uma delas, já se tem uma boa idéia de como são as outras. Na Cantuária (Canterbury), não é diferente. Pode-se chegar ao vilarejo, que durante séculos foi destino de milhares de peregrinos cristãos, viajando por cerca de uma hora de ônibus a partir da capital londrina. Ou, pode-se optar por uma viagem de trem, saindo das estações St. Pancras, Victória ou Charing Cross.

O coração da cidade é a catedral. Andar a pé é a melhor forma de conhecer a parte antiga, com ruazinhas e parques encantadores. Os jardins públicos nas proximidades da igreja têm caminhos que levam às margens do rio Stour, onde são oferecidos tours de barcos. Viajar de barco, aliás, é uma das modalidades que mais aprecio durante as minhas andanças.

Assim atravessei o Canal da Mancha partindo de Calais, na França, até Dover, na Inglaterra. Uma espécie de aventura, idéia que foi germinando na imaginação desde que eu lia Os Três Mosqueteiros. Parti de Paris (Gare du Nord) e, cerca de duas horas depois, desci na estação Calais-Ville. Dali, peguei um ônibus ao Calais Terminal Marítimo, onde passei pela imigração e embarquei. A travessia dos 33 km que separam a França da costa inglesa leva pouco mais de uma hora.

Mas, naquele dia, o mar estava especialmente agitado.

Mesmo com um pouco de medo, subi ao deck e fui apreciar a chegada a Dover, para ver as falésias brancas e a vista pontuada por penhascos e castelos, entre eles o que foi construído pelos normandos em 1181. Outro dos marcos locais é o Farol, construído pelos romanos e que ainda serve de guia aos navegantes. Nos dias claros, o porto de Dover pode ser avistado desde a França. Este porto foi, durante muitos anos, a principal porta de entrada para a Grã-Bretanha.

Pela proximidade entre os dois continentes, a região de Kent ostenta ainda hoje grande número de castelos, palácios e museus.

Foi corrido, mas foi uma viagem inesquecível para comemorar os meus 60 anos!

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