Albânia - seja paciente com Deus


  Albânia, Berat, Sarande, Tirana  5027 visualizações

Eu não tenho certeza, mas acho que acabei na Albânia por causa de uma noite de amor. Quero dizer, nunca tinha passado pela minha cabeça visitar aquele país, até uma noite quando eu estava dividindo uma cama com uma albanesa e ela começou a me beijar, começando pela minha boca e descendo devagarinho até debaixo das cobertas. Depois daquele momento eu comecei a pensar: “Humm... Albânia! Por que não?!”.

Estudando os mapas eu sempre tive dúvidas de qual rota faria para sair da Itália e seguir para o Oriente Médio. Estranho o jeito que o destino nos dá sinais, não?! Naquele caso, a noite de amor foi uma dica para um caminho que eu tinha ignorado durante muito tempo.

Eu saí de manhã cedo de Casserta, próxima a Nápoles (um dos meus destinos favoritos na Itália, por sinal), pulei um trem, fui preso, fui solto, pulei outro trem, quase fui preso de novo e enfim embarquei em uma balsa que cruzaria o Adriático e me levaria até o porto de Durres, na Albânia.

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Eu preferiria ir a pé do Rio a Salvador por ninguém do que fazer aquela viagem de balsa novamente. Eu fiquei cinco dias sem tomar banho nas montanhas e mesmo assim estava nauseado com o odor pútrido de alguns passageiros. Mas meu olfato não era o único dos meus sentidos que estava sendo agredido. Risadas grotescamente altas e conversas em uma língua gutural me faziam desejar o fim do personagem de Leonardo DiCaprio em Titanic. Felizmente em meio ao meu desespero eu encontrei uma garrafa de vinho para me embebedar. Infelizmente o vinho era albanês e quase me vez vomitar no primeiro gole. Logo vi que era melhor aceitar minha condição que doeria menos.

Não sei como consegui dormir. Acho que devo ter tentado me enforcar e a corda improvisada se rompeu me fazendo cair desmaiado no chão perto da minha mochila. Quando acordei na manhã do dia seguinte, pude ver um porto pela janela panorâmica da balsa. Fiquei me perguntando onde estaria a cidade em si, mas logo deixei de perder meu tempo e decidi que já era hora de começar a descobrir como eu faria para chegar ao meu refúgio dos próximos três dias.

Na confusão do desembarque notei uma pessoa que era como eu: não albanesa. Uma garota engraçada de cabelos ruivos enrolados e uma mochila grande nas costas. Acho que só éramos eu e ela nessa condição. Por isso, achei que poderíamos nos ajudar mutuamente. Eu estava errado. Eu seria incapaz de ajudá-la. Ela, por outro lado, seria meu anjo pessoal.

Seu nome era Gerdita, ela era holandesa e cristã missionária. Como eu sempre digo, o Senhor age de forma misteriosa. Gerdita me levaria para sua igreja e para a casa da família que iria hospedá-la, mas isso eu conto melhor daqui a pouco.

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Vou avançar um pouco na história e falar sobre minha experiência turística na Albânia. Foi um choque. Muita gente me dizia que Tirana, a capital, era uma cidade bonita. Li isso até em blogs de viagem. Tirana é realmente bonita, mas só se você fumar crack antes de visita-la. Mas é só uma cidade, não?! E o resto do país? Bom, o resto do país parece ter parado nos anos noventa, não de uma maneira positiva, se é que existe uma. Isso sem contar o fato do cuidado ambiental que os albaneses têm em jogar lixo por todos os cantos possíveis, o que causa um ótimo efeito na paisagem. Até a costa albanesa me decepcionou. É o mesmo mar e o mesmo tipo de solo da Itália e da Grécia, mas com construções medonhas de concreto do modelo comunista que estragam qualquer cena fotográfica.

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Entretanto a Albânia teve seu lado bom também. Em especial o povo. Sem dúvida nenhuma o povo que mais me ajudou na minha viagem foi o albanês. Foi o lugar mais fácil de pegar carona. E os motoristas sempre me davam comida. Em alguns casos até dinheiro. O povo albanês é tão gente fina que uma noite policiais fizeram uma barreira na estrada para pararem todos os caminhões que passavam para acharem um que me levasse para onde eu queria ir. Naquela noite eu estava voltando de uma cidade chamada Berati, que é realmente um destino sensacional.

Eu cheguei tarde e faminto em Berati. Gastei cinco euros, comi como um rei e ainda tive troco. A Albânia foi meio que minha versão real da Bratislava do filme “Eurotrip” nesse quesito de diferença cambial. Eu subi até o castelo medieval da cidade quando o sol estava prestes a se pôr. Lá em cima eu comecei a tomar Arak com dois albaneses enquanto via o corpo caído do gigante Baba Tomorri, o deus montanha amigo do vento, que foi assassinado protegendo a mulher que amava e depois virou a morada dos deuses. Foi uma das visões mais bonitas que tive em toda a minha viagem.

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Outra das visões mais bonitas que tive na minha viagem também foi na Albânia. Foi quando saí de Sarande e parei na fonte do Olho Azul (Blue Eye spring) a caminho da Grécia. O carro que estava me dando carona me deixou na beira da estrada e eu segui uma pequena trilha por um bosque. Não era um dia bonito, muito pelo contrário, era um dia chuvoso e frio. Mas eu não me importei. Na verdade, fiquei até feliz porque o lugar era só meu. Quando eu vi a cor da água não pensei duas vezes, tirei toda minha roupa e entrei. Fora da água estava frio, mas dentro estava congelante. Enquanto eu caminhava até a parte mais profunda, fazia um pedido: queria me tornar um homem mais forte para conseguir trilhar meu caminho até Jerusalém. Quando a água chegou na altura no meu peito, eu sentia como se uma mão gigantesca me apertasse, tirando meu fôlego. Então eu mergulhei. Até hoje eu me lembro da visão que eu tive debaixo da água. Uma mulher loira de olhos azuis e pele branca sorria para mim. Quando voltei à superfície, a mulher não estava mais lá. Mas o frio também não. Eu me sentia ótimo.

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Resumindo, se você for para a Albânia, se prepare para o choque. A maioria dos lugares são feios pra caralho e tem lixo por toda a parte. Entretanto, tudo é muito barato, o povo é muito gente boa e tanto Berati quanto a Fonte do Olho Azul são dois lugares incríveis. Agora podemos voltar à história.

Quando cheguei na igreja de Gerdita, fiquei um pouco apreensivo. Era uma igreja protestante americana. Eu pensei “que merda, vão tentar me converter”. Mas na verdade eles foram muito receptivos e não intrusivos. E o núcleo do sermão que o pastor deu seria meu mantra pessoal para minha jornada. O que ele disse foi o seguinte:

 “Seja paciente com Deus, porque Deus é paciente com você. Não é porque você reza e implora que Ele vai te dar as coisas. As coisas virão na hora certa, que têm que vir. E Ele, melhor do que ninguém, sabe que hora é essa.”

Se você não é cristão ou não acredita em nada, troque a palavra “Deus” pela palavra “Vida” na sentença acima. Talvez fara mais sentido para você.

Muitas vezes quando estava tentando pegar carona demorava um certo tempo para que os carros parassem. E eu falava baixinho para mim mesmo “seja paciente com Deus”. Depois eu esperava, e esperava e esperava. Até que em determinado momento surgia o carro ideal. Um que me desse informação, comida e as vezes até abrigo. Mas não só isso. Geralmente me deixavam em algum ponto com o timming perfeito para que eu pegasse outra carona ou escapasse de uma puta roubada. Pegando carona com o sermão do pastor na cabeça, eu realmente pude perceber que as coisas vinham na hora certa.

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Hoje minha mochila está no meu armário esperando a próxima aventura. E agora eu uso esse mantra para outras situações do cotidiano. Às vezes na vida profissional. Outras na vida amorosa. Mas quando uma oportunidade passa por mim como um carro na estrada e não para, eu sussurro baixinho: “seja paciente com Deus”. E sei que tem uma certa vindo na minha direção.

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COMENTÁRIOS:

Marcela De Souza

Marcela De Souza comentou 8 anos atrás

Que demais!!! Obrigada por compartilhar sua experiência!!!

Martha Sousa

Martha Sousa comentou 7 anos atrás

Adorei o texto Stefano...aproveitando...foi um prazer te conhecer!! Até mais.

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