Cansado de ter meu bolso maltratado pelos preços de Londres, resolvi mudar de ares. Não tinha roteiro definido e tampouco grana. Iria para onde a internet soprasse. Olhei para Manchester e pensei em dar um pulo no Old Trafford bater um papo com Rooney, mas falam que não tem muito o que fazer lá além disso. Bati o olho na vizinha Liverpool. Não vou com a cara do Gerrard, mas consegui estadia de graça e resolvi embarcar.

A primeira noite começou desanimada. O Brasil levou outra lavada na Copa. O jeito era afogar as mágoas na Matthew Street, a rua do fervo, que concentra os principais bares e baladas. É como uma Augusta, em São Paulo, melhor, porque a maior parte dos lugares tem entrada franca.

O esquenta foi numa balada com dose de tequila a 1 libra. Depois, partimos para o Cavern Club. Entrar não era tão barato, mas a justificativa do bar talvez faça sentido. No espaço uma banda local fez seus primeiros shows, no começo dos anos 60. O nome do grupo era “The Beatles”, ou algo assim.


Por ficar no terceiro andar subterrâneo, o lugar tinha uma atmosfera quente e abafada. O ambiente rústico, com tijolos na parede, era decorado com lembranças de bandas que tocaram ali, como o cartaz de um show do The Who, a guitarra que Paul McCartney usou em sua última vez lá e até uma camisa da seleção brasileira de 94, assinada por Pelé, Zico e Romário.

O som ao vivo tinha clássicos do rock como Pink Floyd e Led Zeppelin, além de músicas do quarteto. Os pints, tradicionais doses inglesas de meio litro, custavam 4 libras. Pedi apenas um e passei o resto da noite bebendo dos copos deixados pelos outros clientes. Fiquei bêbado e aproveitei a música.

Ao voltar para o hotel, capotei na hora. Queria dormir até tarde no dia seguinte. Porém, às 10 horas os sinos da Catedral Metropolitana de Liverpool começaram a badalar sem parar, por mais de meia hora. O jeito foi acordar.

Fiquei sabendo de um tour dos Beatles, em que um busão cheio de turista endinheirado passa por pontos importantes da história da banda, enquanto o guia explica tudo num inglês ininteligível. Tudo isso pela pequena fortuna de 20 libras, ou seja, um passeio que não cabia no meu bolso, para variar.


A solução foi improvisar. O Google me ajudou a achar uma rota com todos os lugares em que os roteiros tradicionais passavam. Até uma pequena descrição substituía de forma satisfatória a narração indecifrável do guia do passeio.

Decidimos começar o roteiro a pé. Nossa primeira parada - a maternidade em que John Lennon nasceu - ficava perto de onde estávamos. Andamos mais alguns quarteirões e encontramos um ponto de aluguel de bicicletas numa rua próxima. A solução ideal para fazer o percurso por apenas 3 libras.

Conhecemos as casas onde cada Beatle viveu na infância, a gravadora dos primeiros discos da banda, a rua Penny Lane e as estátuas de John Lennon e Eleanor Rigby. As más línguas podem argumentar que não fazer o passeio de ônibus perde o encanto, porque rola uma trilha sonora no percurso. Mas até isso foi resolvido, com os álbuns “Sgt. Peppers” e “Revolver” que eu tinha baixado no celular.


No final, conhecemos o Magical Mystery Tour, o ônibus que faz um dos passeios convencionais, decorado em homenagem ao álbum homônimo da banda. Estávamos no portão do antigo orfanato Strawberry Field. Batemos umas fotos junto com os turistas. Depois, passamos no mercado comprar umas brejas com a grana que economizamos no passeio.


Link com o mapa do roteiro dos Beatles:
Googlemaps

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